2 de agosto de 2016

”O verdadeiro valor do anel”

 
Todos precisamos do amor e aprovação dos outros, mas muitas vezes vivemos apenas em função disso e se essa aprovação não chega sentimo-nos desmoralizados e sem préstimo. Esta história de Jorge Bucay pode ser um bom ponto de partida para uma reflexão mais profunda sobre isto.

É uma história sobre um rapaz que procurou um sábio em busca de ajuda

- Venho até cá, mestre, porque me sinto tão tacanho que não tenho vontade de fazer nada. Dizem-me que não presto, que não faço nada bem, que sou lento e estúpido. Como posso melhorar?Que posso fazer para que as pessoas me valorizem mais?
 O mestre, sem olhar para ele, disse: 
- Lamento muito, rapaz, mas não posso ajudar-te. Primeiro, tenho de resolver o meu próprio problema. Talvez depois…- E fazendo uma pausa, acrescentou:  - Se tu me quiseres ajudar, eu poderia resolver este assunto mais depressa e talvez depois te possa ajudar.  
- Com todo o prazer, mestre  - gaguejou o rapaz, sentindo novamente que estava a ser desvalorizado e que as suas necessidades eram adiadas.  
- Bom continuou o mestre, tirando um anel que trazia no dedo mindinho da mão esquerda. Dando-o ao rapaz, acrescentou:  - Pega no cavalo que está lá fora e vai ao mercado.Tenho de vender este anel porque preciso de pagar uma divida. Tens de obter por ele a maior quantia possível e não aceites menos do que uma moeda de ouro. Vai e volta com a moeda o mais depressa que puderes.

O jovem pegou no anel e partiu. Assim que chegou ao mercado, começou a oferecer o anel aos comerciantes, que o fitavam com interesse até o jovem dizer quanto queria por ele.

Sempre que o rapaz mencionava a moeda de ouro, alguns riam-se outros viravam-lhe a cara e só um velhinho foi suficientemente amável e se deu ao trabalho de lhe explicar que uma moeda de ouro era demasiado valiosa para ser trocada por um mero anel. Alguém, desejoso de ajudar, ofereceu-lhe uma moeda de prata e um recipiente de cobre, mas o jovem tinha ordens para não aceitar menos do que uma moeda de ouro e, como tal, rejeitou a oferta.  
Depois de oferecer a jóia a todas as pessoas que se cruzaram com ele no mercado, que foram mais de cem, e abatido pelo seu fracasso, o rapaz montou no cavalo e regressou para junto do sábio.  
Ele ansiava por uma moeda de ouro para entregar ao mestre e libertá-lo da sua preocupação, de modo a poder receber finalmente o seu conselho de ajuda.

Entrou no quarto do sábio.  
- Mestre – disse -, lamento muito. Não possível fazer o que me pedes. Talvez tivesse conseguido arranjar-te duas ou três moedas de prata, mas não creio conseguir enganar as pessoas quanto a verdadeiro valor do anel.  
- O que disseste é muito importante, meu jovem amigo – respondeu o mestre, sorridente. – Primeiro, temos de conhecer o verdadeiro valor do anel. Torna a montar no teu cavalo e vai ao ourives. Quem melhor do que ele para nos dizer o valor? Diz-lhe que gostavas de vender a jóia e pergunta-lhe quanto te dá por ela. Mas não importa o que ele te ofereça: não lho vendas. Volta com o meu anel.

O jovem tornou a cavalgar.  
O ourives inspeccionou o anel à luz da candeia, observou-o à lupa, pesou-o e respondeu ao rapaz: -Diz ao mestre, rapaz, que, se o quiser vender agora mesmo, não lhe posso dar mais do que cinquenta e oito moedas de ouro pelo seu anel.  
- Cinquenta e oito moedas?! – exclamou o jovem 
- Sim – replicou o ourives. – Eu sei que, com o tempo, poderíamos obter por ele cerca de setenta moedas, mas se a venda é urgente…

O jovem correu, emocionado, para casa do mestre, ansioso por lhe contar a novidade. 
- Senta-te – disse o mestre depois de o ouvir:  - Tu és como esse anel: uma jóia valiosa e única. E, como tal, só podes ser avaliado por um verdadeiro perito. Porque é que vives à espera que qualquer pessoa descubra o teu verdadeiro valor?

E, dito isto, tornou a pôr o anel no dedo mindinho da sua mão esquerda.

O primeiro passo é ser o seu próprio perito e valorizar-se convenientemente. Só depois disso pode e deve exigir a valorização alheia


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