9 de junho de 2014

Palavras

Que é que estou esperando?
Uma mudança de posição num monólogo que dura há vários meses?
Quem sabe...
A descrição de uma cena, uma pergunta que dê que pensar.
Uma surpresa, a segurança de que o mundo ainda gira e de que tudo vai bem.
Qualquer acção me pode fazer ganhar o dia ou mudar a vida.
Também gosto de falar. Falo, porém, para esquecer
As palavras são tangíveis, podem ser lidas e relidas,
Mostradas a outras pessoas,
Partilhadas
Ou mergulhadas num bolso para ficarmos a pensar nelas.
As cartas contém espaços para longas pausas,
Para reflexões e cogitações.
Podem ser espirituosas, filosóficas,
Fazer-nos reviver o passado
Ou sonhar com o desejado futuro.
São a expressão da nossa solidão humana e da nossa sociabilidade
Os compromissos que tomamos e assinamos,
Que assumimos e selamos,
A homenagem que prestamos à cerimónia e à comunicação.
Sempre sorrio quando, numa carta, consigo ler mais do que dizem as palavras lá escritas.
Como são reveladoras as grandiosas letras maiúsculas de um homem orgulhoso,
Os círculos, as setas, os asteriscos das mentalidades apaixonadas.
A lúcida literatura de quem é capaz de escrever à máquina à velocidade do seu pensamento.
Uma carta é, na realidade, aquele que a escreveu,
Mesmo até na sua aparência.
Onde, senão nas cartas, é tão visível o registo de quem são as pessoas de quem gostamos e como se passou a nossa vida?
Todos nos deveríamos entreter a escrever, de tempos a tempos, mesmo quando não há muito a dizer.
Basta falar a respeito daquele jantar de domingo, por exemplo,
Ou das lições de violino,
Do tamanho das nuvens e das loucuras que o cão tem feito.
Concordo que não é fácil encontrar tempo para escrever.
Mas eu escrevo em qualquer lugar,
Sempre que aparece oportunidade.
As cartas seguem-se sem que carreguem em si qualquer obrigação.
Existe prazer no próprio acto da escrita, não é?
Aqueles que recebem as noticiam ficam emocionados,
Ficam felizes com a surpresa.
É maravilhoso pensarmos quantas cartas são escritas só porque ao passarmos um tempo agradável, sentimos que ele merece ser partilhado.
Neste momento, por exemplo, eu quase acabei de escrever e não tenho nada de importante a dizer.

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