9 de abril de 2015

Dependência do terapeuta

 

O estudo de psicoterapia, pelo menos em Portugal e no local onde estudei, tem várias deficiências. Dão-nos as ferramentas teóricas, falam-nos sobre as correntes científicas que estão na sua génese, nos pressupostos e muitas outras coisas mas esquecem-se de nos treinar em termos práticos. Isso temos de adquirir com a experiência, com tentativas e erros e temos de ir percebendo, ao longo do tempo, como ser e estar. O que é que nos faz sentido e como. Temos de encontrar o nosso próprio espaço. Se calhar acontece o mesmo com qualquer curso mas para mim essa é uma pecha que deveria ser repensada. Tenho de reconhecer que cometi muitos erros no inicio de carreira, que aprendi e continuo a aprender com todas e cada uma das pessoas que me procuraram e que em mim confiaram e gostaria de ter sido mais bem preparada na faculdade e mais bem acompanhada no inicio da vida profissional porque afinal lidamos com vidas humanas que, através da nossa postura, podem ser alteradas no bom ou mau sentido. 

Adquiri esta consciência muito cedo, a de que sou de alguma forma responsável pelas pessoas que me procuram e que os meus erros podem ter repercussões muito nefastas. Esta consciência, embora pesada, é o que me faz estar o mais centrada possível no caso, disponível e atenta aos mínimos sinais. É por causa dela que me entrego a 200% e que estou quase sempre contactável mas penso que não pode ser de outra forma.

Outra das coisas que sempre me preocuparam foi arranjar estratégias para evitar a dependência. Conheço terapeutas que gostam e sentem necessidade de manter os seus doentes dependentes, quase como se de uma massagem ao ego se tratasse - "sou tão bom que não vivem sem mim" . Isso para mim é impensável e eticamente reprovável. O principio deveria ser não o de dar o peixe mas sim o de ensinar a pescar.

Nesse contexto, está este pequeno texto de Bucay.
Você tem fome de saber e fome de crescer. Fome de conhecer e fome de voar...É possível que hoje eu seja o peito que dá o leite que aplaca a sua fome...É ótimo que você queira esse peito. Mas não se esqueça: Não é do peito que você precisa... É do leite!

 Acredito que ainda temos ainda muito a crescer no ensino da psicologia e que seria bom para todos, alunos, futuros profissionais e, principalmente, pacientes que ensinassem este tipo de coisas mais práticas e não deixassem ao acaso a sua aprendizagem. Corremos o risco de estar a formar maus profissionais sem que estes tenham sequer hipótese de perceber o que está errado.

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