22 de abril de 2015

Para ti



Neste dia especial quero agradecer tudo o que me ensinaste e ensinas, tudo o que de importante preciso para a vida. Não são lições de um dia, são palavras, pensamentos e acções. Sementes plantadas ao longo do tempo.
Ensinaste-me o código da linguagem sem palavras, só com a força do olhar. Ensinaste-me a pensar, a ponderar, questionar. Ensinaste-me o cheiro da terra molhada, o sabor de um fruto acabado de colher, dos grelos com chouriço e do cozido a portuguesa. Contigo compreendi o valor das nossas origens e o valor inestimável das amizades.

Ensinaste-me o conforto de um colo, o calor de um beijinho em cima de um dói-dói e o que é aquele friozinho na barriga quando se aproxima a hora de acontecer algo que desejamos muito, como o primeiro dia de escola, a véspera de Natal ou o dia em que nos programam um parto e quem sente as dores és tu. Contigo aprendi o valor de uma mão segura, do ombro amigo e da lágrima de emoção. Que a vida não acaba por causa de um mau corte de cabelo ou de uma gravidez inesperada, mas antes que começa em cada nova conquista de um filho.

Ensinaste-me que o amor se pratica todos os dias e não se adia. Que a infância é feita de memórias banais, de uma ida à praia ou à pesca, das aulas de natação e dos gelados do Baleizão, da liberdade imensa e das viagens de carro com muita cantoria, dos jogos do nosso sporting.

Que o dinheiro pode estar contado, mas deve haver algum que aparece não se sabe bem de onde, quando se quer muito um urso de peluche no natal. Que nos ombros das mães se consegue ter pé até mais longe no mar e que as brincadeiras nas ondas com um colchão são muito mais divertidas. Ensinaste-me que as fantasias de carnaval ou as festas mais bonitas não se compram, mas custam horas de sono e picadas de agulhas nos dedos.

Contigo aprendi que tudo é valido se houver dignidade na intenção, mas que tudo tem um preço. Que a vida custa. Que o sacrifício de horas e horas de trabalho pode ser o único meio de se proporcionar conforto à família. Mas que é importante não se esbanjar e ponderar sempre uma solução alternativa (ou duas!) pelo sim pelo não.

Que o amor cresce, cresce e nunca tem fim. Que é feito todos os dias e todas as noites, na presença de uma febre ou matacanha, mas que também existe na ausência. Que o importante é a preocupação sempre presente com a nossa felicidade, o nosso bem-estar e alegria. Em cada momento difícil, o teu silêncio e apoio são conforto. A agonia da dor compartilhada é minimizada nesse silêncio solidário, mas gritada demais nos gestos, no pão quente comprado e na gasolina que aparece como que por magia no depósito, mas também no olhar e no silencio de um abraço.

Ensinaste-me que liberdade pede responsabilidade. Que os pais são como os clientes e têm (quase) sempre razão. Contigo aprendi a ser fiel aos meus princípios, que o valor da honestidade, rectidão e justiça, são a minha maior herança.

Que temos que ser rijos e não podemos fraquejar. Que a auto comiseração não é solução e que se acreditarmos, podemos não ser capazes, mas ao menos tentámos. E que tentativa, erro e trabalho são a chave para se alcançarem os sonhos.

Ensinaste-me que dormir em conchinha é a coisa mais gostosa do mundo. E que o colo de mãe é como pastilha elástica, estica sempre em proporção ao tamanho de um filho, de mim. Que ser feliz está ao meu alcance, é só ajustar as premissas, os objectivos e manter o foco que a importância está nas coisas mais simples.

Ensinaste-me o valor da generosidade, do altruísmo, o gostar de ver os outros felizes porque, afinal, a felicidade é sempre em espelho. Que o melhor do Natal é a família e que o passado se deve honrar com bôla e pão-de-ló. Que os mortos só morrem se os matarmos em nós.

Ensinaste-me que não faz mal fazer 1000 km se um filho está infeliz e chama por nós.

Que o amor é um contrato sem termo, para a vida, sem férias nem folgas, uma jornada contínua, sem descanso, mas com a melhor retribuição do mundo. Que quando nos nasce um filho ele não é nosso, é de todos os que amamos, do Mundo e que ser avó deve ser (ainda) melhor que ser mãe.

Ensinaste-me que ninguém morre de amor. Que o amor não mata. Mas que se pode viver assim, alimentado para sempre, de um amor umbilical e vitalício.

Ainda bem que existes. Para me ensinares o bom que é viver, para me ensinares a ser mulher e mãe. Ainda há muito mais a aprender contigo. Ainda há muitos netos ansiosos pelo teu colo, teus beijos, teu amor e eu, eterna menina a precisar sempre de ti.




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