7 de maio de 2014

Alienação parental - Caso Giselle


Ouvi a noticia sobre o caso Giselle, uma criança de 9 anos, filha de mãe irlandesa e pai português, que desde cedo se viu envolvida numa guerra entre os pais para a disputa da sua custódia.

Vi no noticiário a retirada da criança ao pai, por parte da policia, cumprindo ordens judiciais, em pleno aeroporto, para a entregar ao padrasto, encarregue de a levar até à mãe que neste momento vive na irlanda, onde já refez a sua vida com este novo companheiro e onde vive com outros filhos desta nova relação. Sem saber dos pormenores do caso nem em que argumentos estará assente a decisão do juiz que julgou o caso, não me vou pronunciar sobre esta situação em concreto, apenas dizer que foi uma noticia que me incomodou.

Ver uma criança como bola de ping pong entre progenitores, ver que usam um filho como arma  para magoar o outro e para vencer batalhas que nada têm a ver directamente com a criança, deixa-me sempre incomodada, para não dizer outra coisa.

Se há coisa que os adultos - pais - deveriam respeitar num divórcio são as crianças/filhos. A separação dos pais, é sempre um momento de sofrimento para os filhos, seja em que idade for. Toda a separação comporta em si um nível de ansiedade elevado porque se trata de uma mudança e toda a mudança, seja ela positiva ou negativa, é potencialmente ansiogénica. A criança vai lidar nesse momento com sentimentos de perda, culpa, zanga e vai sentir-se perdida, sem saber o que fazer. Perde as referências que até aí teve e fica sem certezas sobre o futuro. Compete aos pais minimizar esse sofrimento em todos os aspectos e não agravá-lo com atitudes que apenas prejudicam o normal desenvolvimento da criança e a saudável adaptação a uma nova realidade.

Não defendo que se deva manter uma relação apenas porque as crianças sofrem com a separação, defendo apenas que os pais têm o dever de assegurar que o bem estar dos filhos está em primeiro lugar. Têm  a obrigação de facilitar a transição entre a vida com os pais juntos e a vida com os pais separados e não fazerem da separação uma guerra em que os filhos são envolvidos. Bem sei que também os progenitores estão numa fase de luto pela perda da relação e do projecto de vida que idealizaram, mas não nos podemos esquecer que são os adultos que decidem o fim da relação e não as crianças e é aos adultos/pais que cabe ensinar às crianças a gerir todo esse processo e serem facilitadores de uma transição o mais pacifica possível.

Os pais não se podem esquecer que:

1º a decisão não é da criança
2º a criança gosta de ambos os pais, de igual forma, e não é legitimo pedir-lhe que escolha um deles
3º a criança espera que os pais estejam ambos presentes na sua vida e espera que eles sejam o seu equilíbrio emocional e a sua rede de suporte
4 º a criança precisa de um tempo de adaptação e precisa de sentir que os pais a amam apesar de já não se amarem
5º têm rotinas que envolvem um ou ambos os progenitores e essas rotinas devem ser mantidas, sempre que possível
6º a criança precisa  de estabilidade para poder estabilizar emoções
7º precisa que lhe expliquem o que está a acontecer, com uma linguagem acessível à sua faixa etária, 8º precisa que lhe assegurem que elas não fizeram nada que contribuísse para a situação, que a decisão é apenas e só dos pais
9º precisa que os pais tenham certezas quando anunciam a separação. Não é saudável que andem a brincar às casinhas e hoje separam-se mas amanhã já não. Sejam coerentes e constantes.

Como facilmente se percebe, nada disto é possível, se um dos pais ou ambos entrarem em guerra, movidos por raiva e desejos de vingança porque nada disso lhes dará a  estabilidade emocional para arranjarem estratégias de lidar com o caos que uma separação sempre traz e para protecção da criança.

Assim, deixo aqui apenas algumas dicas que vos poderão ajudar a ajudar os vossos filhos. São atitudes simples de concretizar, em teoria, mas que às vezes as emoções negativas que sentimos em relação ao outro, nos impedem de seguir.

Não digam mal do vosso conjugue à frente dele
Não impeçam o pai/mãe de estar com ele, de o visitar, dormir, passear, decidir, brincar, viver, enfim! Só lhe traz benefícios e nenhum prejuízo
Não usem qualquer tipo de chantagem emocional, do tipo, " se vais com o teu pai/ mãe já não gosto de ti"
Não entrem em guerras monetárias. Interessa apenas providenciarem conforto aos vossos filhos
Não dificultem o contacto com a restante família (avós, tios, primos, ...). A família alargada pode garantir a estabilidade e segurança a que as crianças estavam habituadas

Se têm dificuldade em gerir emoções, se não sabem como agir ou reagir, se se sentem tão magoados ou com tanta zanga e/ou culpa que não sabem o que fazer, por favor, consultem alguém que vos possa ajudar e não utilizem os vossos filhos numa guerra que não é deles. Eles são os primeiros a sofrer e necessitam de todo o vossa apoio e amor para ultrapassar este obstáculo de forma sadia e rapidamente.



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