14 de outubro de 2014

Estamos a criar tiranos

 

O Expresso do passado dia 4 de Outubro divulgava um estudo desenvolvido pela Associação Portuguesa de Apoio à Vitima (APAV), durante oito anos, de 2004 a 2012, em que concluía que a cada três dias há um progenitor, normalmente a mãe, que é maltratada por um filho adolescente, até aos 25 anos.

De acordo com esse estudo, foram agredidos 3988 pais, em casa. O mesmo estudo revela ainda que todos os dias, há um progenitor maltratado quer física quer psicologicamente por filhos de várias idades.

Estes dados são alarmantes e, embora já me tenha cruzado com algumas dessas situações, nunca pensei que a verdadeira dimensão fosse esta. É de facto preocupante!

Acho que as pessoas por vergonha e medo ainda escondem muito do que se passa em casa e não temos desenvolvido verdadeiras políticas de prevenção da violência doméstica que facilite a acusação e a punição. Por outro lado, talvez a maior divulgação destes casos na comunicação social permita que os abusados se sintam menos estigmatizados e mais confiantes na sociedade em geral e na justiça em particular para actuar de forma rápida e eficaz.

Estas situações não são fáceis de entender e são com certeza multifactoriais mas a meu ver tudo se centra no facto de termos passado de um período em que os pais eram demasiado autoritários para um período de pais demasiado permissivos. Há uns anos, não muitos, ouvia-se amiúde que não se podia fazer determinadas coisas às crianças porque as estaríamos a traumatizar. Não as podíamos contrariar ou frustrar, não se dizia que não sem primeiro justificarmos muito bem o porquê e ai de quem desse a chamada palmada pedagógica, era um crime! Tínhamos a obrigação de ouvir a vontade dos filhos e eles teriam direito a ser uma voz decisora no seio familiar. Ao longo do tempo, estas orientações foram sendo interiorizadas pelos pais que deixaram de lado a sua responsabilidade educacional e passaram a ser os pais/amigos e não a autoridade, o respeito e a educação.

Ora, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Podemos e devemos ouvir os filhos, as suas opiniões e desejos, mas há limites para o poder que lhes podemos dar sob pena de os educarmos como se fossem o centro do mundo, transformando-os em pequenos tiranos em vez de crianças equilibradas e saudáveis.

Ao contrário do que possam pensar dar tudo aos filhos e fazer-lhes todas as vontades não é educá-los melhor é apenas mais fácil. As crianças precisam de ganhar resistência à frustração e sentir que há uma autoridade protectora e securizante. Se formos demasiado permissivos perdemos a capacidade de dar ordens e ao contrário do que que podemos pensar os filhos precisam desses limites para ser felizes. Não tenham medo das crianças, se forem pais normais, que impõem regras, limites e autoridade não perdem o amor dos vossos filhos, estão a educá-los e a prepará-los para serem adultos bem formados e felizes. Confiem nos vossos instintos.

3 comentários: